“Porque é que uma pessoa se mete nisto?”

A minha Intervenção na apresentação do Tempo de Avançar em Almada em Janeiro de 2015:

“Quem mora longe de Lisboa, sabe qual é o significado de distância. E quem cresce na margem sul do tejo sabe o que é um rio. Quando vemos Lisboa todos os dias, do outro lado, a nossa dificuldade em lá chegar torna-se ainda mais evidente: ali decide-se, aqui vive-se.

Nós votamos (quando votamos) de 4 em 4, 5 em 5 anos e dizemos que vivemos em democracia, mas ficamos na nossa margem do rio.

Na outra margem, as troikas, as imposições externas e outros interesses internos que nos são alheios, dizem-nos que não temos alternativa. Nós olhamos em volta, e naquelas áreas que conhecemos melhor, vemos e pensamos as alternativas, mas sabemos, esperamos e estamos habituados a que nos sejam apresentadas, num discurso redondo, uma, duas ou muitas razões que contrariam a nossa esperança de mudar. E eu digo que há aqui um rio, há aqui distância e que o rio que nos separa das decisões que nos importam também faz parte de nós, quando desistimos de participar, pois a distância também é a autocensura, é o “eles lá sabem”.

Se a esquerda não converge, se a direita nos manda sentar, eles lá saberão.  Se a maior parte de quem decide são homens, e se nos dizem que sendo mulher vai ser muito mais difícil acompanhar a braçada, ficamos na praia a ler no jornal que Portugal é o pior país na Europa, e um dos piores no mundo, no que toca por exemplo à presença de mulheres em cargos de topo nas empresas.

Se para participarmos temos de conhecer alguém e nós só conhecemos o nosso vizinho, que está na mesma margem que nós, ou se a alternativa é perdermos a nossa juventude e aprendizagem do mundo, durante anos a estudar para politico numa juventude partidária, o rio é largo demais e não vamos sair da praia.

Mas podemos dar a volta a isto!

Quem tem algo para dizer, alguma contribuição a dar, porque aprendeu no trabalho, na vida e gostaria de contribuir para uma alterativa de esquerda livre e moderna, pode atravessar connosco o rio e juntar-se agora ao movimento Tempo de Avançar.

Nesta viagem entre margens, diminuímos as distâncias entre cada um de nós e o rumo do país!

Ajudamos a decidir o rumo porque o processo de construção do programa político é deliberativo e todos podemos e devemos contribuir com a especificidade do nosso conhecimento e experiência.

Nesta viagem cada um de nós pode candidatar-nos em eleições primárias abertas, apresentando-se com a sua contribuição para o rumo que todos decidirmos seguir!

Nesta viagem somos também mulheres que rejeitam que o rio nos afaste e que aqui encontram condições para participar em igualdade no processo democrático!

Venho por isso aqui dizer hoje que, para mim, é tempo de o nosso barco Avançar e atravessar o rio do nosso isolamento à margem do processo de decisão político, do nosso silêncio, conformismo e autocensura, da nossa desilusão com o estado a que isto chegou. É tempo de avançar para a outra margem, (que não é a direita), mas sim a da participação e da construção duma alternativa de esquerda, livre e responsável, que não tenha medo de participar nas decisões que se impõem ao nosso país e à Europa, nem de dar voz ao que cada um de nós tem de melhor a oferecer ao nosso país.”

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